Metamorfoses (Ovídio, Bocage)

Metamorfoses (Ovídio, Bocage)

As Metamorfoses são o poema da rapidez, tudo deve seguir-se em ritmo acelerado, impor-se à imaginação, cada imagem deve sobrepor-se a uma outra imagem, adquirir evidência, dissolver-se. É o princípio do cinematógrafo: cada verso como cada fotograma deve ser pleno de estímulos visuais em movimento.

O horror vacui domina tanto o espaço quanto o tempo. Ao longo de páginas e mais páginas todos os versos estão no presente, tudo acontece diante de nossos olhos, os fatos premem-se, toda distância é negada.

E, quando Ovídio sente a necessidade de mudar de ritmo, a primeira coisa que faz não é mudar de ritmo, a primeira coisa que faz não é mudar o tempo dos verbos mas a pessoa, passar da terceira para a segunda, isto é, introduzir a personagem sobre a qual está para falar dirigindo-se a ela diretamente como o tu: “Te quoque mutatum torvo, Neptune, juvenco”. (Ítalo Calvino)

Publicação
fevereiro/2014
Palavras-chave